No domingo, 7 de dezembro de 2025, o Brasil assistiu a uma das maiores mobilizações nacionais contra a violência de gênero. Dezenas de milhares de pessoas caminharam por ruas, avenidas e praças para denunciar o aumento dos feminicídios e cobrar respostas do Estado. O que começou como convocação de coletivos feministas espalhou-se rapidamente pelas redes sociais e se transformou em um movimento que tomou mais de 20 capitais, além de diversos municípios de porte médio e pequeno.
Havia um sentimento comum entre as pessoas que se reuniram: indignação, luto e, ao mesmo tempo, a esperança de que a força coletiva pudesse impulsionar mudanças reais.
A dimensão nacional dos atos
Embora São Paulo tenha registrado um dos maiores protestos, com milhares concentrados na Avenida Paulista, as manifestações ocorreram simultaneamente em todas as regiões do país. Brasília, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza, Manaus e Curitiba foram apenas algumas das capitais que registraram grande participação. Em estados como Mato Grosso do Sul, Ceará e Goiás, atos regionais chamaram atenção por reunir famílias inteiras, reforçando que o debate já ultrapassa o círculo dos movimentos feministas e alcança diferentes setores da sociedade.
O que se viu foi uma onda nacional de mobilização, com cartazes, faixas, flores, roupas roxas e pretas e homenagens emocionadas a mulheres assassinadas por parceiros, ex-parceiros ou homens que cruzaram suas vidas de maneira violenta.
Em São Paulo, o movimento tomou conta do MASP e seguiu pela Avenida Paulista, com organização pacífica e marcada por discursos, rodas de conversa e momentos de silêncio coletivo. O número de participantes foi estimado em mais de nove mil pessoas, segundo monitoramento acadêmico e de organizações sociais.
Por que os protestos aconteceram agora?
O Brasil vive, em 2025, um agravamento dos indicadores de violência de gênero. Diversas entidades apontam que o país ultrapassou o marco de mil feminicídios no ano, número alarmante que reforça a ideia de que há uma crise nacional de segurança para mulheres. Além disso, relatos de violência doméstica continuam em alta: estimativas recentes apontam que mais de três milhões e setecentas mil mulheres sofreram algum tipo de agressão no último ano.
Para organizações feministas e especialistas em direitos humanos, os protestos surgem como resposta ao acúmulo de casos que ganharam repercussão, muitos deles envolvendo mulheres jovens, mães, trabalhadoras e estudantes. Histórias marcadas por brutalidade e negligência do Estado motivaram manifestações em diferentes estados.
Outra reivindicação recorrente foi a denúncia de fragilidade na rede de acolhimento, desde a falta de casas-abrigo até a demora na concessão de medidas protetivas. Participantes pediram políticas públicas que não apenas enfrentem casos extremos, mas que previnam situações de risco antes que elas avancem para violência fatal.
As falas que marcaram os atos
Nos protestos, mulheres de diferentes idades subiram em carros de som, ocuparam escadarias e usaram megafones para contar suas histórias ou prestar homenagens a vítimas. Havia mães que perderam filhas, jovens que sobreviveram à violência, profissionais da saúde e da educação, além de representantes de coletivos de mulheres negras, indígenas e periféricas.
Ao longo do dia, repetiu-se um clamor geral: feminicídio não é tragédia isolada, mas reflexo de um problema estrutural que envolve desigualdade, machismo, racismo, falhas nas políticas públicas e normalização da violência.
Muitos manifestantes também lembraram que o feminicídio não tem lugar específico para ocorrer, ele atravessa bairros ricos e pobres, grandes centros e cidades pequenas. O problema é nacional e sistêmico, o que reforça o peso simbólico dos atos simultâneos.
Simbolismos presentes nas manifestações
Cartazes com nomes de mulheres assassinadas, cruzes pretas carregadas ao alto, velas acesas e flores foram comuns em diversas cidades. Em alguns locais, manifestantes estenderam longas faixas com datas de feminicídios, criando um corredor visual de memória e denúncia. A cor roxa, tradicional na luta feminista, tingiu ruas, camisetas, lenços e pinturas faciais.
Esses símbolos tornaram os protestos mais do que um ato político, transformaram-nos em espaços de luto coletivo e de reafirmação da resistência. Para muitas participantes, estar na rua foi um ato de cura e solidariedade.
Reivindicações centrais
Entre as principais demandas expressas nos protestos estão:
• Fortalecimento das políticas de proteção à mulher;
• Ampliação e criação de casas-abrigo e centros de atendimento;
• Agilidade na concessão e fiscalização de medidas protetivas;
• Investimentos federais e estaduais contínuos para prevenção e acolhimento;
• Campanhas educativas permanentes voltadas ao combate ao machismo;
• Protocolos mais rígidos para resposta policial em casos de denúncia.
Também houve pedido explícito para que o poder público trate o feminicídio como emergência nacional e não como estatística recorrente.
A presença dos homens
Embora majoritariamente composto por mulheres, os atos também registraram presença significativa de homens, especialmente jovens e familiares de vítimas. A participação masculina foi destacada por organizadoras como sinal de que o enfrentamento da violência de gênero precisa envolver toda a sociedade. Em diversas cidades, grupos de homens carregaram faixas reafirmando compromisso com o combate ao machismo e com a necessidade de educar novas gerações.
O impacto da mobilização
Os protestos de 7 de dezembro entraram para o calendário simbólico da luta pelos direitos das mulheres no Brasil. A amplitude geográfica, a força emocional e a organização unificada indicam que há uma atenção crescente da sociedade para o tema. Além de pressionar autoridades, a mobilização pode estimular debates legislativos, revisões de orçamento e maior vigilância sobre políticas públicas.
Ao mesmo tempo, o ato reforça o papel da memória. Cada nome lembrado, cada história contada, cada cartaz levantado é um lembrete de que a luta por justiça continua e de que transformar essa realidade exige esforço coletivo.
Os protestos contra o feminicídio realizados em 7 de dezembro de 2025 mostraram um país mobilizado, indignado e cansado de perder mulheres para a violência. A rua virou palco de denúncias, mas também de esperança. O recado dado foi claro: o Brasil não aceita mais esperar.
A luta por um país onde mulheres possam viver com segurança, dignidade e liberdade não cabe apenas às vítimas ou aos movimentos feministas pertence a todos. O ato de 7 de dezembro não encerra uma batalha. Ele marca o começo de um novo compromisso: o compromisso público, coletivo e urgente por vidas preservadas.